Credit: City of Kigali/Courtesy
03 Jun 2025 Technical Highlight Transporte

Cidades africanas aceleram a mudança para ruas mais acessíveis às bicicletas

Credit: City of Kigali/Courtesy

Da movimentada Adis Abeba às colinas cênicas de Kigali, cidades africanas estão transformando a mobilidade urbana ao adotar o ciclismo e a caminhada. Isso está remodelando os deslocamentos diários, reduzindo as emissões e criando comunidades mais saudáveis e verdes.   

Em todo o continente, governos estão promovendo políticas de transporte não motorizado e investindo em infraestrutura de alta qualidade. Ao integrar o ciclismo às redes urbanas, governos priorizam segurança, acessibilidade e a responsabilidade ambiental, reduzindo emissões, melhorando a saúde pública e promovendo cidades mais inclusivas.  

Na Etiópia, onde bicicletas são populares em cidades como Bahir Dar e Hawassa, o Ministério de Transporte e Logística do país elaborou a Estratégia de Transporte Não Motorizado 2020-2029. Com o apoio técnico do PNUMA, da ONU-Habitat e do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (Institute for Transportation and Development Policy  ou ITDP), a estratégia também orienta melhorias nas instalações para pedestres.   

Addis Abeba fez avanços significativos desde que lançou o Projeto do Corredor da Cidade (City Corridor Project) em 2022. A capital da Etiópia construiu mais de 60 quilômetros de passarelas e ciclovias protegidas, com planos de expansão para mais de 76 quilômetros de ciclovias e 200 quilômetros de passarelas na próxima fase. Hawassa e outras cidades em todo o país estão seguindo o exemplo, lançando projetos de corredores com instalações de alta qualidade para pedestres e ciclistas.   

Financiado pelo governo nacional e supervisionado pelo Gabinete do Primeiro Ministro, o Projeto do Corredor da Cidade de Adis Abeba está alinhado com o Plano de Rede de Bicicletas de Adis Abeba 2023-32. Adotado pelo Departamento de Transporte de Adis Abeba (AATB), o plano foi desenvolvido com aconselhamento político do ITDP e do UN-Habitat.    

Além disso, um estudo de viabilidade realizado em 2021 preparou o terreno para o primeiro sistema de compartilhamento de bicicletas da cidade, com o Departamento de Transporte de Adis Abeba posteriormente recrutando operadores privados para ampliar a disponibilidade de bicicletas por meio de um sistema baseado em tecnologia da informação. O estudo contou com o apoio da ONU-Habitat, do ITDP e do Fundo das Nações Unidas para a Segurança Viária

Pedestrians and cyclists use a protected walkway alongside a protected cycle path in Addis Ababa.
Addis Abeba melhorou sua infraestrutura para mobilidade ativa: a cidade agora tem mais de 60 km de passarelas e ciclovias protegidas, com planos de expansão em breve para mais de 76 km de ciclovias e 200 km de passarelas. Crédito: ITDP Africa/Cortesia 

O Egito está pronto para a transformação com sua próxima Estratégia Nacional de Mobilidade Ativa, que a Autoridade de Novas Comunidades Urbanas (New Urban Communities Authority) formulou com a colaboração do PNUMA, ONU-Habitat e ITDP. O país pretende fortalecer a infraestrutura para pedestres e fazer o ciclismo ser mais do que um modo recreativo, estabelecendo a mobilidade ativa como parte integrante do transporte urbano.   

A Iniciativa de Bicicleta de Cairo (Cairo Bike Initiative) lidera a frente com 255 bicicletas de aluguel movidas a energia solar em 25 estações, oferecendo pagamento e retirada via aplicativo. O programa será expandido para 500 bicicletas distribuídas em 45 estações, ajudando o Egito a alcançar suas metas climáticas

A terceira maior cidade do Quênia, Kisumu, deu passos decisivos rumo a um futuro mais amigável para bicicletas com seu Plano de Mobilidade Sustentável (Sustainable Mobility Plan), desenvolvido com a orientação de políticas da ONU-Habitat e do ITDP. A cidade prevê 100 quilômetros de calçadas, 31 quilômetros de ciclovias e um sistema de compartilhamento com 400 bicicletas. 

A primeira fase do Projeto Triângulo de Kisumu introduziu passarelas e infraestrutura para pedestres de alta qualidade, com mais 8,1 quilômetros de infraestrutura para ciclistas em andamento com financiamento do Banco Mundial

 A woman uses her mobile app to rent a bicycle at a bike-share station in Cairo; a man passes by, possibly after having returned a bicycle.
A Iniciativa de Bicicleta de Cairo (Cairo Bike Initiative) introduziu 255 bicicletas de aluguel movidas a energia solar em 25 estações com pagamento e retirada via aplicativo, e planeja expandir para 500 bicicletas em 45 estações para apoiar as metas climáticas do Egito. Crédito: ITDP Africa/Cortesia

Quando os melhores ciclistas do mundo chegarem a Ruanda para o Campeonato Mundial da União Ciclística Internacional (UCI) em setembro de 2025, eles encontrarão uma cidade construindo um futuro onde o ciclismo é central.    

"Em Kigali, a maioria dos passageiros já depende de transporte não motorizado", diz Sheila Uwase, engenheira da Prefeitura de Kigali. "Nosso objetivo é melhorar a segurança e a acessibilidade para todos os usuários da estrada."   

Desde 2016, Kigali realiza dias quinzenais sem carros aos domingos, promovendo uma cultura de ciclismo. A cidade estabeleceu zonas livres de carros e 13 quilômetros de ciclovias em seu Distrito Central de Negócios. Agora registra mais de 1.500 ciclistas por hora nas principais ruas, com planos de expandir sua rede de ciclismo ao longo de ruas e hidrovias.  

Em 2021, o Ministério da Infraestrutura de Ruanda desenvolveu uma nova Política Nacional de Transporte; sua seção de transporte não motorizado incorporou orientações políticas do PNUMA e do ITDP com o apoio da Fundação Fia. As principais recomendações incluem a implementação de infraestrutura cicloviária fisicamente protegida, fornecendo travessias seguras de pedestres em vez de passarelas, reduzindo as tarifas de bicicletas e introduzindo um sistema de compartilhamento de bicicletas.  

Com o apoio do PNUMA por meio do Projeto SolutionsPlus, financiado pela União Europeia, a cidade de Kigali introduziu bicicletas elétricas para os funcionários da cidade. A cidade também melhorou a infraestrutura de pedestres por meio do Imbuga City Walk, uma zona de pedestres no centro de Kigali, bem como duas zonas táticas de pedestres em Biryogo e Remera.   

Deslocamento de bicicleta, um divisor de águas   

O deslocamento à pedal não é apenas uma mudança ecológica, é um divisor de águas para cidades. Estudos indicam que a infraestrutura cicloviária é dez vezes mais econômica do que o metrô na redução de emissões. Além disso, cada quilômetro pedalado gera benefícios econômicos e de saúde, reduzindo o congestionamento, melhorando a qualidade do ar e diminuindo o risco de doenças cardiovasculares e diabetes.    

"Os sistemas de compartilhamento de bicicletas apoiam ainda mais a mobilidade com emissão zero, tornando as viagens curtas e a conexão do último trecho com o transporte público mais acessíveis”, destaca Carly Gilbert-Patrick, líder da equipe de Mobilidade Ativa, Digitalização e Integração de Modos de Transporte do PNUMA.  

A infraestrutura para ciclistas e pedestres também é ligada a salvar vidas. O Relatório de Status da Segurança Viária na África 2025 revela que, apesar de possuir apenas 3% da frota global de veículos, o continente africano responde por 24% das fatalidades no trânsito em todo o mundo, com 259.601 mortes por ano. Esse dado evidencia a necessidade urgente de instalar estruturas mais seguras para pedestres e ciclistas, protegendo os usuários mais vulneráveis das vias.  

Com o apoio técnico do PNUMA e de várias organizações que defendem a mobilidade ativa em todo o mundo, governos africanos estão integrando bicicletas ao planejamento urbano, garantindo uma viagem mais suave e segura para uma economia verde, ar mais limpo e comunidades mais saudáveis.    

Mais informação: carly.koinange@un.org 

O Plano de Ação Pan-Africano para a Mobilidade Ativa   

PNUMA, OMS e ONU-Habitat defendem o aumento da infraestrutura para caminhadas e uso de bicicletas por meio do Plano de Ação Pan-Africano para a Mobilidade Ativa (Pan African Action Plan for Active Mobility ou  PAAPAM), lançado no Fórum Urbano Mundial em 2024. A implementação começou após uma cúpula estratégica bem-sucedida realizada em fevereiro de 2025, em Nairóbi. O PAAPAM prioriza e promove a mobilidade ativa em toda a África ao definir prioridades comuns, aumentar a conscientização, incentivar investimentos, fomentar o compartilhamento de conhecimentos regionais e estabelecer e monitorar indicadores de desempenho para caminhadas e uso de bicicletas no continente.